segunda-feira, 25 de março de 2024

Rascunhos intensos

Rascunhos intensos Uns rascunhos sobre lousa, que ditam e sentenceiam, com incerteza, do que pode ser ou não o amor, dependendo do tempo onde se esconde a intensidade. Teólogos, psicanalistas, filósofos tentaram chegar ao íntimo do amor sem conseguirem com veracidade absoluta, sem concluírem com certeza expressar o que é ou não é. Muitos inocentes foram enforcados e levaram com eles para a cova as injustiças do homem, outros foram ilibados e amaram ao longos dos anos de vida. Amar é um enfeite ou adorno para os poetas, um desejo profundo com o qual nascemos, a quebra do cordão umbilical dividido entre a mãe que nos pariu e nós que guardamos como lembrança eterna. Quem é dono da verdade para afirmar, que ouve ou não ouve amor passageiro, fosse por um dia ou sem anos? Mulheres que deram á luz 22 vezes foram amadas ou simplesmente desejadas? Um coração que bate em surdina a 200 à hora será um coração que ama? Ou será apenas afeto, consideração e carinho? Só se ama uma vez que se prolonga durante o nosso viver. O resto são fragmentos impulsivos para as ocasiões. Querer não é amar, desejar também não, receber a bala que estava destinada ou outro é apenas um ato de coragem e heroísmo. Nos livros Romeu e Julieta, morrer por amor, ou amor de rascunhos intensos perdição, cujas propagandas deixavam uma lágrima no canto do olho, vieram de uma imaginação fértil e rentável. Quantas vezes ouvi dizer: eu amo os meus filhos e com o decorrer dos tempos são abandonados, roubados, mal tratados e encarcerados em asilos para dementes. Há ainda aqueles amores platónicos que Platão examinou na sua obra: o banquete, As uniões que subsistem às tempestades por mero interesse, e aquelas que fingem, simulam ou guardam bem escondidas a fim de preservarem uma imitação de felicidade. Amar e ser amado só nos romances

quinta-feira, 21 de março de 2024

Dia de sorte sx AB Aquela mulher sorridente e linda tinha despertado sentimentos adormecidos que invadiam noite e dia um ser nobre, puro, e que se preparava para aceitar os avanços da filha do patrão, onde a nobreza ditava uniões por interesse, apesar de ser uma bonita rapariga que daria uma boa mãe para os filhos que desejava, e o proporcionava para sarilhos e desavenças com as quais teria que lidar, porque a mulher de quem gostava tinha unido o seu corpo ao dele naquele beijo interminável, sem saberem nada um do outro, como um par de inocentes que jogam ao doutor, no recreio da escola. Fred tencionava por os pontos nos iis antes de chegar ao fim do cruzeiro. Tinham- se separado com o sabor do beijo, mas como adultos que eram, uma conversa séria impunha-se. Assentados na sala de jantar mesmo em frente estava Maria de costas voltadas, e um homem elegante acariciava as suas delicadas mãos e ambos sorriam como pombos no choco. Decididamente não existia o seu dia de sorte. Começava a fazer projetos mentalmente com uma casa pequena, mas um jardim imenso e os filhos de volta dele, rindo com a felicidade que sentiam e o afeto e carinho que o pai tinha reservado especialmente para eles. Tudo foi por água abaixo. O destino voltava a mostrar as garras ingratas e ele só podia respeitá-las. Foi de imediato ao quarto vestir uns calções e dirigiu-se para a piscina onde mergulho como um louco à procura de afogar sentimentos e aquele beijo traidor que o martirizavam. Emergiu quando o oxigénio já lhe faltava, e quando ia subir a silhueta da mulher surgiu como por magia balbuciando as seguintes frases. _ Ainda és mais atraente sem roupa? E soltou uma estrondosa gargalhada chamando a atenção dos banhistas. Fred quedou-se petrificado observando o corpo de uma sereia, que o tentava, ou brincava com ele como se fosse uma criança ingénua. Apressou-se a ir deitar-se na cadeira onde tinha deixado a toalha, furioso como um touro à solta ela passou os seus pés lisos pelos dele e disse: No beijo parecias mais doce? -Respondeu. E eu gostaria de saber o nome do jogo que queres jogar com dois homens? – AH o meu marido? É homo, faz a sua vida. – E eu sou o quê no meio desta trapalhada? – Tu és um querido que não deixarei escapar custe o que custar. Que quer dizer que dinheiro já tenho o suficiente, amor ainda me falta muito… Juntaram as cadeiras e conversaram como adultos. Fred contou o seu passado e Maria também chegando à conclusão que nada os impedia de viver juntos para o resto da vida.

domingo, 17 de março de 2024

Destinos e destinados 640B Fernando C tinha agarrado a mão do avô como se a pudesse guardar para sempre, quando ouviu dois homens vestidos de branco dizer: - Vamos ter de levar o corpo. Acompanhou a avó à sua enfermaria onde ficou instalada durante quinze dias que os separou, o que nunca tinha acontecido. Nas suas visitas o neto notava a fragilidade e preocupava-se com o seu estado de saúde., mas numa noite fatídica partiu serenamente ao encontro da paz. Fernando C sentiu-se só neste mundo de percalços onde a luta é constante que para uns traz a felicidade e para outros o desespero, a tristeza e a solidão. Tinha uma família que desconhecia, e ninguém para lhe dar afeto e carinho em momentos tão difíceis. Pela sua mente passaram soluções para acabar com tamanho sofrimento, e quando quis pôr em prática os seus intentos apareceu o seu anjo da guarda, uma das criadas que tinham resistido às tempestades, já com os seus 80 anos, tendo passado metade da sua vida a servir aquela casa, considerada e amada que retribuía. Tinha passado a noite à vela, como se adivinhasse o que iria acontecer naquele quarto onde a luz permanecia acesa e duas velas ardiam na mesinha de cabeceira onde se encontrava também um quadro com a fotografia daqueles que o criaram, mimaram e subsistiam às suas necessidades materiais. Com ela trazia uma faca de cozinha, e imediatamente cortou a corda que pendia do tejadilho, pedindo auxílio telefonicamente. – Foi só um susto o rapaz está bem, com a sua ajuda, gratidão. Estas notícias estavam expressas no jornal da manhã e o meio irmão ficou atónito deslocando-se imediatamente para o hospital. Entrou na enfermaria e silenciosamente tentou ficar a seu lado combalido e triste quando o outro abriu os olhos envergonhados pela culpa. Deram-se um apertado abraço, mas as palavras não saíam da boca de nenhum. Passaram longos minutos aconchegados um ao outro até que o culpado em voz trémula pediu que o perdoasse. Sim tens o meu perdão se me prometeres que vais lutar com a vida e tentar ser um verdadeiro homem. Desta promessa saiu uma luta constante, primeiro contra os vícios que o minavam e em seguida inscreveu-se num liceu particular para adultos pondo em prática todas as suas potencialidades intelectuais que fizeram o seu caminho e o levaram à universidade de Coimbra onde tirou um curso superior de arquitetura, com financiamento do que o Avô que tinha depositado numa conta secreta onde só o Notário teve acesso e a desbloqueou para fins necessários como dizia o testamento. Também a herdade lhe pertencia compensando Carlos, seu filho, com apartamentos rentáveis para lhe não faltar nada

sexta-feira, 15 de março de 2024

Dia de sorte complemento AB Os grandes portões de ferro abriram uma clareira por onde passou o corpo emagrecido de Francisco, com um saco cheio de nada, a vestimenta guardada havia anos, degradava-o e os pequenos passos hesitantes pareciam não acreditar, que aquele era o seu dia de reencontro com a liberdade. Olhou o céu incrédulo onde as nuvens de negro vestidas ameaçavam retirando-lhe a visão de um sol brilhante que tantas vezes imaginou no silencio de um quarto vazio e frio, na solidão que lhe martirizava o ser, na esperança que tantas vezes julgou vã, no refúgio de um manuscrito que relatava o mistério que envolvia traições, violações e morte, com o preço pago a pronto. As suas empresas tinham frutificado graças aos bons gestores que se empenharam profundamente sem preconceitos, excelentes profissionais, e uma limousine branca esperava-o à distância de alguns metros. Uma criança correu para o abraçar, talvez mandada pela mãe mais reticente onde se podia ler o pecado dos seus atos. Ele recebeu-a com um abraço que á miúda pareceu uma eternidade. – Minha filha! Murmurou entre dentes, - se soubesses o quanto te amo que por ti resisti a tudo para um dia te acariciar e amar como um verdadeiro pai. - Então porque choras? Perguntou a inocente que sabia tudo sobre os acontecimentos, que a mãe se empenhou em legá-los, sempre com fotos que a ajudaram a crescer sabendo que estava preso e que não era autorizada a visitá-lo. A mãe recebeu um beijo na fronte, confirmação de que estaria sempre com elas, independentemente do que pudesse acontecer. Dirigiram-se os três para a limousine que os conduziu a moradas diferentes, como tinha sido acordado previamente pelos adultos. Chegaram á propriedade cercada com muros altos e um porteiro esperava-os para os conduzir através de magníficos jardins onde o perfume penetrava nas narinas e o olhar vislumbrava de prazer. As escadarias dos dois lados davam-lhe uma delicadeza acolhedora, no cimo, uma criada toda de branco vestida e avental de serviço dou-lhe as boas vindas. Entraram e um cachorro fofinho veio de encontro à menina como se soubesse que seriam grandes amigas, foram distribuídos os aposentos de cada uma, passaram pela salinha confortável até chegar ao quarto da menina que ficou surpreendentemente sem voz, incrédula com o que via. Este vai ser o meu quarto? -perguntou. Sim este é o teu quarto. Gostas? - Se gosto? Como poderia não gostar? -Francisco tinha conversado na véspera com a mãe da filha deixando firmemente que entre eles jamais haveria outras relações que não fossem de encontro aos interesses da filha. Depois ausentou-se com um beijo ternurento nas bochechas da filha. Voltarei quando estiver instalado no Hotel onde tenciono descansar em paz.

terça-feira, 5 de março de 2024

assassinos à solta

Aquele dia… AB Foi num desses dias, naquela estrada que tantas vezes vimos, ladeada de acaliptos direitinhos, por onde o sol entrava e com seus raios nos cobríamos, de mãos dadas e apertadas por tudo e por nada riamos, o amor segredava-nos aos ouvidos e com beijos os cobríamos para por ninguém serem roubados nem mesmo presenciados, era o nosso mundo selvagem que a felicidade abrangente escureceu e de repente, já bem perto, as chamas galgavam consumindo o que apanhavam e em cinzas se transformavam, como se do inferno viessem, trazer o pânico semear o medo, aos que por entre o arvoredo tentavam fugir ao degredo, deixando para trás o que amavam que num canto escuro se refugiavam, e os desesperado coitados tentavam fugir para todos os lados, mas só se viam automóveis embraseados e dentro deles corpos calcinados, acudam gritavam alguns já meio sufocados, procurando por todos os lados águas que pudessem vencer um mafarrico á solta ou encomendado. Já não tinham lágrimas para derramar nem alento para continuar, era um combate vencido, porque as armas que não tinham, e tantas esperanças perdidas, martirizavam suas cabeças enlouquecidas, em cada passo que davam, erguiam os olhos ao céu e suplicavam, que os deixassem pelo menos viver, depois de tudo perder. Tudo cheirava a fumo, à morte que os alcançou, à descrença que os condenou, tornando-os mártires daquele dia sem abrigo e sem nada somente o pó da estrada, que o vento dum dia varreu, mas a borracha não apagou tanto sofrimento grande desgraça esquecimento do que passaram, que jamais alguém poderá compreender O QUE SE CHAMA SOFRER

sexta-feira, 1 de março de 2024

Reflexões

8. Soneto de fidelidade – Vinicius de Moraes De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Destinos e destinados 854 AB De volta a casa onde sua mãe o esperava preocupada, assentou-se no grande salão, pedindo à mãe que viesse para junto dele. Era um homem e como tantos outros também chorou agarrado àquele volante que o dirigia já por costume porque na sua cabeça ia tanta confusão alimentada por erros irremediáveis que se cometem enquanto adultos, recorrentes de ilações que só o perdão pode corrigir, ou a vingança agravar. Correu os seus dedos finos suavemente pelos cabelos daquela que lhe deu a vida, fixando-a com uma ternura como a imensidão do mundo, enquanto as palavras demoravam a sair, como se estivessem presas aos sentimentos que a alma manifestava silenciosamente. - Tu queres-me pedir alguma coisa tão pesada que te paralisa? - Queria apenas contar-lhe a crueldade da vida, onde toda a gente anda envolvida sem saber para que lado fica a saída. -Filho? Não me deixes em tão grande ansiedade, conta-me antes a verdade, talvez eu possa ajudar, e juntos como sempre podemos chorar, ou talvez remediar? - É a história de um dossier, que meu pai ao falecer me legou, e hoje já não sei o que fazer, conversar contigo e dar-te a mão, aquela que ele te deu, num dia triste quando te encontrou, abusada, abandonada com tanta dor, e em troca de nada te ofereceu carinho, afeto e a casa onde viveu tanta coisa em troca de nada, porque os bons seguem sempre a mesma estrada. Aqui está o teu passado esperando ser abandonado porque de que servirá a vingança? Hoje desloquei-me a casa dos teus antigos patrões para lhe pedir explicações e eles ignorantes coitados, lutavam com a vida enquanto o seu neto amado, caído no chão esfarrapado com barbas de metro e meio, alcoolizado, drogado abandonado a tremer de fome e frio, que não conseguiu abrir a porta da herdade, nem mesmo à campainha tocar pedir que alguém o viesse ajudar. O avô internado e sem nada saber, esperava apenas o neto par morrer. - Ó meu adorado filho, não tens de ser tu a carregar, coisas tão graves do passado? E Fernando A com os olhos a lacrimejar, contou á mãe o seu dia atributado. Resta-me agora mãezinha, conhecer outro irmão meu, e não guardo rancor àquele que tanto te fez sofrer, está pagando lentamente, e se um dia lhe salvei a vida, paguei como paga a gente honesta atirando para fora o que não presta. - Esse irmão já o conheces, juntos estudaram em Coimbra, embora em cursos diferentes, mas uma visita é primordial, e verás que família tão linda unida e carinhosa, e a mãe que tantas coisa sabia, escolheu o caminho da felicidade. Tenho muito orgulho de ti e abraçou-o longamente